“Dona de casa e empresária” é como se apresentam cerca de 10,3 milhões de brasileiras ao Instituto Brasileiro de Geografia e Estatistica (IBGE). Juntas, elas somam 34,4% dos donos de negócios no país. Com tantas mulheres, vem muito potencial. De olho na oportunidade de preparar mais empresárias industriais para expadir a atuação ao exterior, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) criou o programa Mulheres Globais.
“Percebemos que não bastava apenas apresentar as ferramentas e os marketplaces, tínhamos de tratar as competências das empresárias para negociar e alavancar os negócios. Não estamos falando de um programa só de mulheres. O conhecimento do projeto vem de ambos os gêneros. Não se trata de times diferentes, de um lado homens e do outro mulheres, se trata de condições iguais para os dois negociarem e terem sucesso”, destaca especialista em Internacionalização da CNI, Sarah Saldanha.
A iniciativa, criada em parceria com a Agência Brasileira de Promoção e Exportações e Investimentos (ApexBrasil), envolve workshops, mentorias em grupo e mentorias individuais. O objetivo é definir as propostas de valor e os modelos de negócios das mentoradas, de acordo com o tema de cada etapa.
A primeira rodada do programa foi dividida em dois ciclos para indústrias de moda, cosméticos, alimentos e bebidas, com o tema “E-commerce como estratégia de expansão”. Em workshop realizado em São Paulo no último dia 6, representantes de grandes empresas, como Bauducco e BRF, e especialistas em comércio exterior compartilharam experiências e conselhos para a inserção de novos negócios brasileiros no mercado internacional.
A Agência de Notícias da Indústria trouxe as principais dicas da especialista em Transformação Digital com foco em e-commerce Paula França, e as experiências e conselhos de grandes indústrias alimentícias, como a Bauducco e a BRF.
Por eliminar as barreiras físicas, o comércio eletrônico oferece acesso a consumidores globais e a expansão da presença de uma marca em outros mercados. Mas, para não se perder nesse mundo, a primeira dica é ter clareza dos objetivos desejados.
“Tenho uma marca sólida e quero apresentá-la para o mercado; ou quero expandir meu negócio para outros estados brasileiros ou para outros países. O primeiro passo é definir esse objetivo, pois com base nele podemos criar um plano estratégico”, exemplifica Paula França.
Em seguida, é preciso definir o mercado alvo e estudá-lo: os concorrentes, as regulamentações, os certificados, as normas de qualidade nacionais e internacionais, os riscos e as transações financeiras que serão feitas.
Com tudo isso em mãos, vão aparecer os desafios do comércio eletrônico. Confira as dicas da Paula para lidar com eles!
1. Gestão de estoque e capacidade operacional
“Quando uma empresa decide entrar no comércio digital, ela tem que definir qual grupo de produtos inserir nesse canal. O ideal é que seja o que tem mais controle e mais capacidade operacional. Aquele produto que não depende de sazonalidade, tem produção frequente e não é um desafio”, explica a especialista.
2. A escolha do canal de vendas
Na hora de escolher onde ofertar um produto, é necessário garantir altos padrões de segurança, como a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) do Brasil; adotar métodos seguros de pagamento e assim transmitir confiança ao cliente; e disponibilizar informações detalhadas como os ingredientes/insumos, a história de criação daquele item, para aproximar o cliente da marca e do produto.
3. Marketing e comunicação
Para além de produzir algo, uma empresa precisa pensar em como conquistar o consumidor. No caso do e-commerce, em que não é possível experiementar o sabor ou sentir o cheiro de um produto, uma boa estratégia é usar e abusar do marketing e da comunicação.
“Canais de divulgação podem e devem ser usados para apresentar os itens, mas também para mostrar os serviços da marca. Serviço não é só a entrega do produto. É mostrar como ele pode ser potencializado, é se adaptar ao idioma e ao vocabulário do mercado em que pretende se inserir, é oferecer atendimento claro e rápido em caso de dúvidas”, detalha Paula França.
“Você precisa se preparar para atender o cliente. Saber falar ou ter algum profissional que fale o idioma do país, pois isso está ligado também à exatidão das informações e à confiança; e checar o fuso e qual horário certo para conversar com esse cliente também são outros pontos estratégicos para uma comunicação de sucesso”, complementa a especialista.
Estar no comércio virtual internacional não é um desafio só para novos entrantes ou pequenas empresas. Gigantes da indústria de alimentos e bebidas também traçaram trajetórias próprias e têm muito a compartilhar com quem vai dar esse passo agora.
Para o gerente de produtos da BRF, João Maldonado, ter bons parceiros e dar passos estruturados são pré-requisitos básicos.
“Temos bons parceiros para facilitar esse processo (de expansão) como a CNI e a ApexBrasil. Não procure atalhos. Se precisar da certificação, de uma documentação, espere. Faça o certo desde o início para não ter maiores prejuízos depois”, aconselha Maldonado.
Antigo parceiro de trabalho e atual concorrente no ramo alimentício, o gerente sênior de e-commerce da Bauducco, Nicholas Rivelli, destacou a importância de estudar o mercado e o público-alvo. A Bauducco tem mais de 70 anos de história, então, assim como a BRF, a empresa já tentou, errou e acertou várias vezes até encontrar a forma ideal de buscar mercados além do brasileiro.
“Toda cena de consumo é diferente. Às vezes, a forma de consumir não é a mesma em outro país. As cores, as imagens, as traduções precisam levar isso em conta. É válida toda preocupação, seja aqui ou no exterior, que a marca seja reconhecida, mas que também esteja alinhada com o consumidor final. Ouça o seu cliente, pelo SAC ou pelas redes sociais, busque os feedbacks para aprimorar a entrega, a embalagem, o seu produto”, explica Rivelli.
Realizado pela Rede Brasileira de Centros Internacionais de Negócios (Rede CIN), em parceria com a Agência Brasileira de Promoção e Exportações e Investimentos (ApexBrasil), o programa foi criado para promover o e-commerce como estratégia de expansão e internacionalização, desenvolver competências em Gestão e Marketing Digital, além de definir proposta de valor e modelos de negócios com foco no comércio eletrônico internacional.
Todo conteúdo abordado nos encontros é disponibilizado para as participantes, bem como um plano de negócios para e-commerce internacional baseado na Metodologia Business Model Canvas elaborado durante as mentorias. No final do programa Mulheres Globais, as empresárias brasileiras estarão habilitadas para atuar no comércio virtual.
Coordenada nacionalmente pela CNI, a Rede CIN promove a internacionalização das empresas brasileiras por meio de um conjunto de serviços customizados às necessidades.
Presente nas 26 federações de indústria dos estados e do Distrito Federal, a iniciativa conta com especialistas de comércio exterior que desenvolvem soluções encadeadas e complementares para os diversos níveis de maturidade das empresas brasileiras. Quer saber mais? Acesse o canal da Rede CIN.
Parabéns!