“Ao construir nossa carreira, precisamos saber quais são os nossos inegociáveis”, sugere Marta Saft, presidente da Thoughtworks
Marta Saft, diretora-presidente da Thoughtworks no Brasil, participou do segundo dia da Semana Caldeira, trazendo reflexões sobre o tema “Como construir uma trajetória profissional que tenha significado”. Em sua palestra, Marta destacou a importância de mulheres abordarem temas além de diversidade e inclusão, celebrando o convite para falar sobre carreira e propósito, tópicos que tangenciam não apenas o sucesso profissional, mas o sentido de uma jornada significativa.
A executiva começou sua fala reconhecendo o privilégio de discutir carreiras em um contexto onde, muitas vezes, o trabalho é meramente uma questão de sobrevivência para algumas pessoas. Ela afirmou que com grandes privilégios vêm grandes responsabilidades, o que torna essencial que cada indivíduo cuide de sua trajetória profissional, compreendendo o impacto que essa jornada terá tanto sobre si quanto sobre os outros.
Nós precisamos cuidar das nossas jornadas como um ato de responsabilidade com a gente mesmo e com o outro, que vai ser impactado pelo o que fizermos da nossa jornada
Ao longo da conversa, Saft trouxe à tona uma questão central para muitos profissionais: a insatisfação crescente no trabalho, apesar do aumento da dedicação e do tempo investido. A painelista ressalta que o modelo atual de cultura profissional muitas vezes não nos ensina a construir uma carreira com significado e que isso contribui para essa insatisfação generalizada. “Não aprendemos a desenhar o que seria uma carreira de sentido, especialmente se pensamos nisso como uma realização a longo prazo”, assegura.
Saft também questiona a ideia coletiva de sucesso, em muitos momentos representada como um ponto distante, uma “meta final” que promete felicidade e realização. Para a executiva, essa visão é enganosa, pois ignora que o verdadeiro sucesso está na jornada em si, em cada passo que damos. “Às vezes a gente esquece que o sucesso, na verdade, que a gente está buscando lá no ponto B, vai depender da potência de realização que existe em cada um dos passos que tomamos nessa jornada”, afirma.
A presidente da Thoughtworks critica o conceito de propósito como algo que muitas vezes carrega expectativas irreais, tanto pessoais quanto profissionais. Ela sugere que, em vez de buscar um propósito maior desde o início, é necessário um exercício contínuo de autoconhecimento e sinceridade consigo mesmo. “A gente não pode esperar que o trabalho seja aquilo que traga para a gente uma razão de ser”, destaca, propondo um modelo de auto sinceridade, onde se equilibrem os desejos profissionais com as necessidades práticas e os valores pessoais.
Carreira e Valores
Um ponto crucial na fala da empresária, é a importância de “alinhar a carreira com os próprios valores inegociáveis, como a ética”. Ela compartilha um exemplo pessoal, lembrando de uma ocasião em que se recusou a cruzar limites éticos para cumprir um prazo em um projeto. Esse momento, segundo ela, foi crucial para reafirmar que, independentemente das pressões do mercado, é essencial que a carreira esteja apoiada em pilares sólidos como a ética e o respeito aos próprios limites.
Nesse sentido, Saft afirma que desafios e frustrações fazem parte do processo. “O trabalho da gente vai precisar fazer sentido para a gente, porque nós vamos lidar com muitas coisas difíceis no meio do caminho”, reflete, enfatizando que, a definição de sucesso precisa ser pessoal, não somente coletiva.
Saft ainda propôs que o verdadeiro impacto de uma carreira não deve ser medido apenas em termos de conquistas tangíveis, mas na transformação que ela provoca, tanto no indivíduo quanto no ambiente à sua volta.
A jornada precisa fazer sentido primeiro para gente. Esquece essa ideia de sucesso lá de fora ou de uma jornada de êxito. Vamos fazer sentido para gente por razões bem práticas.
Inovação dentro do que já existe
A panelista ressalta que inovar não significa apenas criar uma startup ou resolver problemas de maneira inédita, mas também apoiar empresas inovadoras ou atuar como consultores para transformar negócios tradicionais. Segundo ela, não há uma posição definitiva para inovar, pois tudo se resume ao impacto que queremos causar.
Marta sugere que cada um deve definir o que significa sucesso. “Se eu não estiver projetando o que significa sucesso para mim, provavelmente estarei perseguindo o sucesso de outro”, alerta.
É preciso ainda abandonar a ideia de uma carreira linear, onde o sucesso é medido exclusivamente pela ascensão em uma escada corporativa ou social. Isso, pondera, limita nossa capacidade de explorar diferentes caminhos que podem nos levar ao impacto que almejamos. Para ela, não é a direção “para cima” que define sucesso, mas a capacidade de explorar várias direções de crescimento, tal como uma árvore que cresce para todos os lados, em busca de florescimento.
Parabéns!