Donald Trump reassumiu a presidência dos Estados Unidos em 20 de janeiro de 2025, iniciando seu segundo mandato com um discurso que reforçou prioridades domésticas, reindustrialização e fortalecimento econômico sob a ótica do protecionismo comercial. Seu posicionamento de “América em Primeiro Lugar” reacende discussões sobre impactos nas relações econômicas globais, incluindo com o Brasil, principal parceiro comercial dos EUA na América do Sul.
Relações bilaterais e perspectivas econômicas
Historicamente, Brasil e Estados Unidos mantêm uma relação comercial robusta, sustentada por mais de 200 anos de laços diplomáticos e investimentos bilaterais expressivos. A nova administração de Trump pode trazer desafios e oportunidades. Em entrevista à CNBC, Abrão Neto, CEO da Amcham Brasil, ressaltou que, apesar da retórica protecionista, ainda há incertezas sobre medidas concretas e seus impactos diretos.
Relatórios sobre superávit comercial e expectativa para abril
Um dos pontos centrais da nova política comercial americana é a determinação para que ministérios e agências dos EUA produzam relatórios sobre países com superávit comercial com os Estados Unidos. O prazo para a divulgação desses documentos é 1º de abril, e os resultados podem indicar possíveis mudanças nas relações bilaterais. “A política ‘America First’ se reflete na determinação de várias agências e ministérios americanos em produzir relatórios sobre países com superávit comercial com os EUA. Ainda há expectativa sobre quais serão os próximos passos, e esses relatórios, que devem ser divulgados em 1º de abril, podem oferecer uma visão mais clara sobre eventuais medidas comerciais.” – Abrão Neto
Números da relação Brasil-EUA
A relação comercial entre Brasil e Estados Unidos está em um dos seus momentos mais sólidos. Em 2024, o fluxo de comércio entre os dois países cresceu de forma disseminada em diversos setores, fortalecendo ainda mais os laços econômicos bilaterais. O comércio bilateral Brasil-EUA somou US$ 80,9 bilhões em 2024; Em 2023, foram anunciados 126 projetos e US$ 7,3 bilhões em investimentos por empresas dos Estados Unidos no Brasil; 9.553 empresas brasileiras exportaram para os EUA em 2024.
“O saldo comercial entre Brasil e Estados Unidos segue favorável aos americanos há mais de uma década, o que pode ser um fator relevante nas análises da nova administração sobre países com déficit. No entanto, é essencial que o Brasil mantenha diálogo e estratégia para preservar e expandir esse relacionamento.” – Abrão Neto
Oportunidades para o Brasil
Embora a ênfase de Trump esteja na reindustrialização americana, essa estratégia pode gerar demanda por commodities e insumos nos quais o Brasil tem competitividade. Setores como energia e agro seguem em destaque na pauta bilateral. Além disso, a indústria automotiva é um dos focos da nova gestão. O Brasil, como um dos principais exportadores de autopeças para os EUA, pode se beneficiar desse movimento, dependendo de como se desenrolar a política industrial americana.
No entanto, na nova diretriz da política “America First Trade Policy”, os Estados Unidos buscam ampliar as vendas dos Estados Unidos para a China, com foco nos segmentos agrícola, energético e industrial. Esse crescimento pode trazer desafios para o Brasil, que concorre diretamente com os EUA na exportação de commodities como soja, carne bovina e petróleo. Caso a China aumente suas importações de produtos norte-americanos para atender a novos acordos comerciais, a fatia do Brasil nesse mercado pode diminuir, afetando o volume de suas exportações.
Cenário energético: desafios e sinergias
Trump anunciou uma emergência energética nacional para ampliar a produção doméstica de petróleo e gás, reforçando a busca por independência energética. Ainda assim, o Brasil continua como um parceiro estratégico no setor, sendo o petróleo o principal item exportado para os EUA. “O setor energético pode continuar sendo um elo forte entre os dois países. O aumento da participação de empresas americanas no Brasil e os investimentos no setor de energia renovável também sinalizam oportunidades independentes do foco na produção de combustíveis fósseis.”
Futuro das relações Brasil-EUA
A nova fase da política comercial americana exige uma atuação diplomática ativa do Brasil para manter a cooperação e minimizar impactos protecionistas. A Amcham Brasil seguirá acompanhando os desdobramentos da relação bilateral e promovendo o diálogo entre setores público e privado.
AMCHAM