A primeira plenária do segundo dia da Conferência Anprotec 2024, intitulada “Reflexão sobre os Novos Papéis dos Ecossistemas de Inovação”, trouxe discussões profundas sobre como ambientes de inovação podem responder aos desafios econômicos e sociais contemporâneos. Sob a moderação de Guilherme Ary Plonski, nomes como Adriana Faria (Anprotec), Watcharin (Lhing) Witthayaweerasak (Thai-BISPA) e Martin Gorosko (Technopol) compartilharam perspectivas locais e globais sobre a evolução desses ecossistemas.
“Vemos a Anprotec como um modelo”, afirmou Lhing, presidente da Thai-BISPA, ao destacar o papel da associação como uma organização neutra que conecta instituições e os ministérios da Educação, Ciência e Tecnologia e Economia da Tailândia. O Thai-BISPA, segundo ela, é fundamental para capacitar o capital humano em parques científicos e incubadoras de negócios, com iniciativas que abrangem certificações, mentorias e parcerias internacionais.
Além disso, Lhing detalhou as verticais estratégicas da associação, que incluem “aprendizado, capacitação comunitária, certificação, acreditação, diretrizes, premiações e uma forte rede de mentores e investidores”. Essas ações sustentam os 42 associados e mais de 4.000 empreendimentos conectados ao Thai-BISPA.
Ainda assim, ela reconheceu desafios importantes. “Muitas empresas tailandesas têm uma visão local limitada, influenciada pelo tamanho do nosso mercado interno de 70 milhões de habitantes. Isso, somado a barreiras linguísticas e diferenças de fuso horário, dificulta uma maior integração global.” Lhing também apresentou o modelo tailandês de parques tecnológicos, que conecta grupos de universidades, tornando os parques orquestradores das iniciativas de diferentes instituições.
Martin Gorosko, diretor do Technopol e membro do conselho da IASP (Associação Internacional de Parques Científicos), apresentou a Estônia como um país pequeno em população – apenas 1,3 milhão de habitantes – mas com um impacto desproporcional em inovação. “A Estônia lidera em startups e unicórnios per capita. Esse resultado só é possível porque nossas empresas precisam pensar globalmente desde o início, dado o tamanho reduzido do mercado interno”, explicou.
Ele também destacou como a rede da IASP foi instrumental para estabelecer os parques científicos locais, conectando-os a iniciativas globais em áreas como agronegócio, blockchain e sustentabilidade. “No Technopol, nos especializamos em deeptech, com foco em cibersegurança e aplicações militares, mas sempre buscamos parcerias globais para expandir nosso alcance.”
Adriana Faria, presidente da Anprotec, trouxe um olhar crítico sobre o cenário brasileiro. “O mundo é uma roça”, brincou ela, referindo-se à crescente interconexão dos mercados e da concorrência global. Adriana enfatizou que, para o Brasil, é essencial fortalecer o sistema produtivo e transformar desafios locais em oportunidades. “Com cerca de 15.000 startups, das quais apenas 800 são deeptechs, e 15% da produção científica mundial, ainda enfrentamos dificuldades em converter esse potencial em soluções práticas.”
Ela também apontou a queda nas matrículas de universidades e pós-graduações como um alerta para o futuro. “Precisamos nos apropriar dos problemas do nosso território, enquanto buscamos talentos e empresas de fora para fortalecer nossos ambientes de inovação.”
Para o moderador Guilherme Ary Plonski, o debate destacou que os ecossistemas de inovação são mais do que conexões entre universidades, empresas e governo. “Eles assumem um papel estratégico na resolução de desafios globais e no fortalecimento das economias locais”, afirmou.
Ele concluiu a plenária enfatizando que “as reflexões apresentadas não apenas enriqueceram a visão dos participantes, mas também ofereceram direcionamentos claros para que os ambientes de inovação se posicionem como protagonistas da transformação social e econômica, tanto em nível local quanto global.”