Engenharia de resiliência auxilia na operação de aviões no RS em meio à catástrofe climática
Sem o aeroporto Salgado Filho, alagado pelas recentes enchentes que causaram dezenas de mortes e destruição no Rio Grande do Sul, as operações aéreas se tornaram extremamente complexas e sujeitas a numerosas variáveis e imprevistos, tanto que uma nova ciência está sendo aplicada no desenho do planejamento de empresas como Azul, Gol e Latam. A engenharia de resiliência tomou forma no meio acadêmico no início dos anos 2000, e a empresa Adjust, consultoria baseada no Tecnopuc (Parque Científico e Tecnológico da PUCRS), em Porto Alegre, se tornou a primeira a utilizá-la.
É por meio do trabalho da empresa que do dia 9, quando começou o fluxo de chegada de donativos do país inteiro por meio do Comando Conjunto Operacional, do qual a Adjust participa, até o domingo (19) terão desembarcado no RS, sem maiores percalços, 226 toneladas de itens. A chamada Operação Taquari II envolve uma coordenação entre diversos órgãos e instâncias, como Base Aérea de Canoas, aeroportos de Guarulhos (SP), Brasília (DF) e Galeão (RJ), Secretaria Nacional de Aviação Civil, Ministério da Defesa, Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional, Exército, Aeronáutica e companhias aéreas.
Cofundador e CEO da Adjust, Rafael Trancoso é piloto formado pelo curso de Ciências Aeronáuticas da PUCRS. A profissão casou perfeitamente com a atual missão logística humanitária no Sul durante esse período de enfrentamento às cheias, em que o principal aeroporto gaúcho poderá ficar fora de operação até setembro. Uma das vantagens da formação de Trancoso dentro desse contexto são os contatos nas linhas aéreas.
Segundo o CEO, a engenharia de resiliência é uma ciência que fornece ferramentas para que o planejamento seja feito em meio a um cenário de completa incerteza. É praticamente uma consultoria em “real time”, já que Trancoso passa o dia em contato com todos os envolvidos, seja por telefone ou WhatsApp, controlando o andamento de todo o processo para evitar o máximo de imprevistos. “Meu celular não conseguia sair de 10% ligado na tomada”, diz ele, atualmente baseado no quartel do Exército ao lado da PUCRS, sobre os momentos mais intensos de comunicação entre os diferentes atores em campo.
Para explicar como a Adjust atua, Trancoso cita o exemplo de uma parte das várias ações realizadas no Estado recentemente:
1- Tudo começa com a demanda para as empresas aéreas, informando a necessidade de donativos
2- A empresa sinaliza o dia e horário do envio da carga para Canoas
3- Assim que termina o carregamento da aeronave, Trancoso é notificado e informado do peso das cargas de água, cestas básicas e cobertores, por exemplo
4- “Eu acompanho esse voo em tempo real”, afirma o CEO da Adjust sobre quando o avião decola, de olho no cumprimento do horário previsto de chegada
5- O desenho da operação prossegue. O CEO contata a logística do Exército e coordena o número de pessoas condizente para descarregar os donativos
6- Comunica à Força Aérea para estar presente, também
7- O check-list continua com a destinação da carga. Ele fala com a Defesa Civil, que indica o depósito, e então se calcula quantos caminhões são necessários para transportar as doações até o local.
A operação humanitária deverá servir de base para quando começarem os voos comerciais durante o período em que o Salgado Filho continuar fechado, salienta Trancoso. “De um modo geral, uma base aérea não foi inicialmente concebida como um aeroporto comercial, com toda a estrutura para embarque, desembarque, descarregamento de cargas de variadas aeronaves. Então, eu não posso botar um avião lá que não consiga descarregar. Tenho que ver se o equipamento para tirar a carga de dentro da aeronave está lá, se é compatível. Além disso, se o pavimento vai aguentar o peso do avião, entre outros detalhes”, explica.
O que é engenharia de resiliência
Devido à finitude de recursos, quando uma organização se depara com um evento desafiador, é necessária uma coordenação entre diferentes unidades para que a adaptação ocorra da forma mais eficiente possível por meio de mobilização de recursos e do compartilhamento de informações. Estruturar operações de modo que isso seja possível tem sido o objetivo da engenharia de resiliência. Essa área dos estudos organizacionais tem apoiado diversas organizações nos mais variados setores, como aviação, óleo e gás, resposta a desastres em cidades e aeroespacial, a serem mais resilientes em contextos extremamente dinâmicos e incertos.
Sobre a Adjust
Criada em outubro de 2022 por especialistas em engenharia de resiliência, a Adjust tem o propósito de tornar as operações de organizações complexas mais resilientes frente aos mais diversos desafios que surgem. Para tanto, a Adjust trabalha com análises e metodologias sistêmicas que permitem compreender a realidade complexa das empresas, construindo soluções em processos e treinamentos para um alto desempenho frente a desafios e oportunidades.
Sobre o Tecnopuc
O Tecnopuc – Parque Científico e Tecnológico da PUCRS – é um ecossistema de inovação global que tem como missão ajudar a transformar a sociedade por meio do conhecimento aplicado em negócios inovadores e de impacto ambiental, social e econômico, desenvolvendo e conectando talentos e organizações anywhere a partir da ciência e da tecnologia. A atuação do Tecnopuc se baseia em quatro áreas: indústria criativa, tecnologia da informação e comunicação, ciências da vida e energia e meio ambiente. Esse ecossistema abriga mais de 300 organizações e 6,5 mil pessoas, conectadas a mais de 150 ambientes de inovação espalhados pelo mundo. Em 10 anos, a meta é desenvolver mil negócios inovadores nesse ambiente. Algumas das organizações globais expoentes ligadas ao Tecnopuc são Apple Developer Academy, HP, CMPC, ThoughtWorks e Junior Achievement, enquanto as nacionais e startups incluem Globo, Sebrae, UOL Edtech, Grupo Four (South Summit Brazil), Sulgás, entre muitas outras.
Parabéns!