Nos últimos 20 anos, na esteira do baixo crescimento da economia brasileira e do aumento da concorrência com produtos importados, houve retração da indústria de transformação do Estado. Nesse período, o Rio Grande do Sul manteve a terceira posição entre os estados brasileiros com maior valor adicionado na indústria de transformação e viu aumentar a ligação entre as atividades da indústria e da agropecuária. Esses são alguns dos apontamentos levantados pelo estudo “Estrutura produtiva e indicadores da produção industrial no Rio Grande do Sul”, elaborado pelo Departamento de Economia e Estatística (DEE), da Secretaria de Planejamento, Governança e Gestão (SPGG).
O material analisa o perfil, as mudanças ocorridas na estrutura produtiva e o desempenho da indústria de transformação, composta por atividades industriais que produzem bens intermediários ou finais a partir de matérias-primas. Os dados analisados, de fontes como o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), compreendem o período de 2002 a 2022.
Além da integração com o setor agropecuário, percebida na oferta de insumos, máquinas e equipamentos e na demanda de matérias-primas de origem primária, outra semelhança entre a indústria gaúcha e a indústria brasileira é apontada na análise: a destinação expressiva da produção para o mercado externo, majoritariamente de bens intermediários. A expansão da demanda global por commodities, que explica parcialmente a alta nos preços agropecuários e o movimento de expansão da área plantada de grãos no Rio Grande do Sul, coincidiu com o aumento da importância de setores de média-baixa intensidade tecnológica na estrutura industrial e nas exportações.
Valor adicionado bruto
O estudo da pesquisadora Flávia Félix Barbosa mostra que, de 2002 a 2021, houve queda da participação da indústria de transformação no valor adicionado bruto (VAB), definido como o saldo entre o valor da produção e o consumo intermediário, representando a contribuição deste segmento da indústria no PIB. A retração foi de 0,7 pontos percentuais no Estado. Entre os motivos para o declínio, pode ser citada a redução da diversificação produtiva e das exportações. Ainda assim, o Rio Grande do Sul é o segundo Estado mais industrializado do país, com 18% do total do VAB em 2021, atrás apenas de Santa Catarina.
De 2002 a 2022, a participação média do Rio Grande do Sul na exportação de produtos industrializados do Brasil foi de 10,4%. No período, é possível observar a queda da participação gaúcha, que passou de 12,0% no ano inicial para 9,6% no ano final da série, com destaque negativo para os bens de consumo.
Valor de transformação industrial
O valor de transformação industrial (VTI) é a diferença entre o valor bruto da produção industrial e o custo das operações industriais. Esta variável também foi observada, demonstrando que, entre 2007 e 2021, as atividades industriais que tiveram mais importância na geração do VTI foram as de fabricação de produtos alimentícios, produtos químicos, máquinas e equipamentos, veículos automotores e artigos de couro e calçados. Juntas representam mais de 50% do valor da transformação industrial (VTI) do Rio Grande do Sul.
As atividades citadas também prevalecem no campo de exportações do Estado e estão entre aquelas com os maiores quantitativos de emprego industrial.
A fabricação de derivados de petróleo e de biocombustível, de alimentos, de máquinas e equipamentos e de papel e celulose são destaques positivos, pois avançaram na participação do valor da transformação industrial. Em contrapartida, houve recuos na fabricação de veículos, de couro e calçados, de produtos do fumo e na metalurgia.
Perspectivas
O estudo ressalta que as perspectivas eram positivas para as atividades industriais do Estado em 2024. Entretanto, as expectativas foram revertidas em razão das enchentes no Rio Grande do Sul em maio deste ano.
“É provável que o setor industrial enfrente grandes dificuldades para a retomada de suas atividades e apresente crescimento negativo, não estimado até o momento. Além das perdas na capacidade de produção, há aquelas relacionadas às dificuldades para manutenção das empresas, dos empregos e das exportações”, citou a pesquisadora Flávia no documento, que destaca ainda o provável efeito adverso no PIB do Estado em 2024. O vínculo entre a indústria de transformação gaúcha e a agricultura torna a produção do Estado mais suscetível aos impactos de adversidades climáticas.
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