Da mesa de operações no mercado financeiro a líder de fundo de impacto: conheça a trajetória de Itali Collini
A executiva atua hoje como diretora da C, fundo de impacto com foco em startups de educação e empregabilidade
De acordo com o último Censo do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), a cidade de São Roque, no interior de São Paulo, possui quase 80 mil habitantes. E foi lá que nasceu a investidora e economista, Itali Collini, atual Diretora da Potencia Ventures no Brasil, grupo de investimentos voltados para negócios de impacto social. Entretanto, a profissional mal sabia que sua atuação se estenderia para o mundo todo e que seu futuro seria em uma metrópole global, com população quase 150 vezes maior que a de São Roque, e para um setor completamente fora do tradicional: o de impacto social.
Aos 12 anos, Itali mudou da cidade natal para Jundiaí com seus pais. E, desde esse período, a profissional tinha uma visão empreendedora que pulsava. “Meu pai só tinha cursado o ensino médio e minha mãe nem isso, mas eu sempre me vi, desde pequena, com curiosidade sobre o mundo financeiro. Ainda criança, gostava de pensar em maneiras de ganhar dinheiro, com 8 anos brincava de vender raspadinha na porta de casa e durante o colegial vendi cookies na escola para complementar renda para alimentação. Também foi durante o ensino médio e técnico que comecei a querer entender a movimentação da economia com a descoberta da bolsa de valores. Todos esses pensamentos e experiências, juntos com a minha mentalidade questionadora, foram moldando, desde os meus primeiros anos de vida, a executiva que sou hoje”, analisa.
Durante os dois primeiros anos do ensino médio, a hoje economista ia para Campinas (SP) todos os dias para estudar na escola técnica da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), a Cotuca. Entretanto, aos 17 anos, Itali saiu definitivamente de casa para cursar o último ano do colegial na mesma cidade.
No seu ano de estágio técnico e cursinho, em 2008, foi a virada de chave para a entrada real no mundo financeiro. Ela iniciou estágio na área de manutenção da Eaton, uma das maiores indústrias de manufatura do Brasil. Seguindo os engenheiros que conhecia na empresa, aos 18 anos, fez o primeiro curso de bolsa de valores e passou a comprar ações.
Um pouco depois, em 2009, já na faculdade de Economia da Universidade de São Paulo (USP), começou a navegar pelos ramos mais tradicionais do setor financeiro, trabalhando em consultoria macroeconômica e agência de rating de crédito, por exemplo. “No início do meu ensino superior, lembro que tinha uma visão mais individualista. Queria crescer, ganhar dinheiro e construir minha carreira. Mas dois acontecimentos foram essenciais para sair da minha zona de conforto e me conectar com o ramo que trabalho nos dias de hoje”, conta Itali.
O primeiro momento foi quando começou a trabalhar na HSBC Asset Management, divisão de gestão de ativos do banco HSBC, onde ficava focada no setor da mesa de operações. Esse ponto foi crucial para uma transformação significativa na forma de enxergar a diversidade e o papel das mulheres no mercado de trabalho. Contratada após uma entrevista em que ouviu “até que você foi bem para uma mulher” e inserida em um ambiente de trabalho que lembrava o filme Lobo de Wall Street, Itali foi a primeira estagiária mulher daquela equipe e começou a reparar nos aspectos linguísticos e culturais que mantinham as mulheres longe de profissões no mercado financeiro. Eu vi e ouvi de tudo, desde coleção de playboys na gaveta do escritório até o relato de uma colega em outro banco que tinha pedido demissão após um mês de ter sido promovida por causa do assédio moral por ela ser mulher. A coisa mexeu tanto comigo que decidi escrever minha monografia sobre a mulher no mercado financeiro”, relembra a executiva.
Depois de sair da mesa de operações e focar em desenvolver a pesquisa de monografia, Itali co-fundou o GENERA – Núcleo de Pesquisa em Gênero, Raça e Sexualidade da FEA-USP com sua orientadora Silvia Casa Nova, tendo gerido o grupo por 3 anos e criado os primeiros simpósios com apenas pessoas diversas entre os palestrantes. Além disso, o artigo “Mulheres no Mercado Financeiro: Um olhar sob a ótica de gênero” resultante da pesquisa pioneira de Itali foi aceito em 3 congressos internacionais antes mesmo dela se graduar em economia. Ela passou a escrever sobre diversidade e foi convidada para apresentar no TEDx Campinas sua visão do que o mercado financeiro ensinou sobre igualdade de gênero.
O segundo momento foi durante o projeto Bandeira Científica, realizado pela USP, que levava estudantes para contribuir com suas áreas de atuação em cidades de baixo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). “Tive um momento muito importante na ida a Pedra Azul, no norte de Minas Gerais). Meu grupo levou um treinamento de business model canva – ferramenta de gerenciamento estratégico, que permite desenvolver modelos de negócio em uma única página – para ajudar os produtores rurais a terem um olhar empreendedor. Foi nesse momento que tive a minha virada de chave sobre como o pouco conhecimento que eu tinha era valioso e a diferença de acesso dentre as classes sociais”, lembra. “Foi o ponto de partida para começar a entender melhor e me indignar com as desigualdades e a falta de acesso a oportunidades de mobilidade social.”
Mesmo após o ‘start’ mental, Itali ainda se manteve no mercado mais tradicional, passando pela Standard & Poor’s em análise de crédito e na Landmark Capital em fusões e aquisições. Porém, a profissional já estava estudando o setor social, que havia chamado a sua atenção durante os projetos anteriores. Foi nessa época que conheceu o empreendedorismo social e o ramo de investimentos de impacto. A hoje investidora conseguiu uma oportunidade na Sitawi Finanças do Bem, um dos fundos filantrópicos voltados para esse setor no Brasil. Ficou por quase dois anos trabalhando com consultoria ambiental, social e de governança, além de análise de investimento para negócios de impacto.
Em 2018, a profissional foi recrutada pela 500 Global, um dos principais fundos e aceleradoras de venture capital em estágio inicial do mundo, sediado no Vale do Silício. Nesta oportunidade, Itali enxergou que poderia aprender sobre a visão tradicional de Venture Capital e trazer sua experiência e visão de impacto. Tendo contato com um grande portfólio global e aprendendo novas técnicas de aceleração e mentoria nos Estados Unidos, Itali teve a comprovação de que gostava de trabalhar com empreendedores, o que passou a guiar seus projetos pessoais de investidora anjo e mentora.
Após quase 4 anos na 500 Global, Itali decidiu viver novas experiências e conversando novamente com o setor de impacto foi contratada pela Potencia Ventures, grupo de investimentos voltado para impacto social com foco, especialmente, em educação e empregabilidade. Ela viu na Potencia uma oportunidade de aplicar novamente uma estratégia de investimento com impacto em primeiro lugar. A Potencia promove ecossistemas inovadores desde 2002, quando a fundadora Kelly Michel vislumbrou uma oportunidade para o investimento social no Brasil. Além disso, tem um objetivo claro: apoiar a construção de uma sociedade menos desigual. Na hora, Itali se identificou com a vontade do grupo de diversificar o portfólio com ações mais afirmativas.
Atualmente, como Diretora da Potencia no Brasil há quase três anos, Itali trabalha para garantir um mundo mais diverso através do investimento de impacto, principalmente voltado para empregabilidade e educação, dois setores que precisam de atenção no Brasil. Em 2023 ela lançou o Potencia UP, programa inédito de bolsas para empreendedores diversos, e selecionou 20 startups para receber benefícios por 12 meses. O programa foi bem sucedido em gerar boas oportunidades de desenvolvimento negócios de impacto e a Potencia decidiu liderar a rodada semente de 2 startups beneficiadas. “Hoje, sinto que trabalho com todas as frentes de propósito que fui reconhecendo em mim ao longo dos anos e isso é muito gratificante. Tenho a intenção de continuar investindo em impacto social com olhar para diversidade, quero ajudar a Potencia a consolidar sua estratégia de investimento semente. Estamos nos preparando para lançar uma segunda versão do Potencia UP e atingir um portfólio de mais de 30 startups investidas até 2025”, finaliza.
Sobre a Potencia Ventures:
Fundada em 2002 por Kelly Michel, a Potencia Ventures é um grupo global pioneiro em investimento de impacto que investe em fundos de Venture Capital e startups early stage. Em 2005, a Potencia financiou a primeira aceleradora de impacto do Brasil, a Artemisia, em que Kelly foi cofundadora e permaneceu na operação até 2010, passando ao conselho desde então. Em 2009, a Potencia também catalisou o primeiro fundo de venture capital de impacto brasileiro, a Vox Capital, no qual Kelly também operou nos primeiros anos como co-fundadora.
Com enfoque em modelos de negócios que melhoram a vida de pessoas de baixa renda, a Potencia Ventures trabalha nos Estados Unidos e mercados emergentes da América Latina e Índia, identificando, executando e gerenciando investimentos nos setores de educação e empregabilidade. O grupo já conta com mais de 25 startups em seu portfólio e também investe em mais de 45 fundos ao redor do mundo. Acesse o site da Potencia Ventures e saiba mais!