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O que o Fórum Econômico Mundial espera do setor privado na agenda de sustentabilidade?

O que o Fórum Econômico Mundial espera do setor privado na agenda de sustentabilidade?

Presidente do Fórum Econômico Mundial, Børge Brende acredita no potencial do Brasil à frente do G20 e do B20 para liderar as discussões na transição energética para uma economia de baixo carbono e em regras comuns internacionais de governança no comércio digital. “A liderança do Brasil é muito necessária no contexto global atual”, afirmou.

Brende participou nesta segunda-feira (29) da palestra “Moldando uma economia global resiliente e sustentável e o papel do B20”, no evento de lançamento do B20 Brasil, com a coordenação da Confederação Nacional da Indústria (CNI). O Opening Event é o primeiro encontro da agenda dos grupos do Business 20, o braço de negócios do G20.

Entre os desafios da transição energética, Brende apontou o aumento do custo da energia elétrica – especialmente em países que ainda dependem do carvão – e a complexidade de financiamento. “Estamos olhando para um panorama que a revolução industrial começou há mais de 200 anos com combustíveis fósseis e agora estamos na transição para uma realidade descarbonizada”, afirmou.

Embora represente cerca de 2% do PIB global, o Brasil é responsável por 10% da produção global de combustíveis renováveis, o que abre espaço para um protagonismo nessa agenda, de acordo com o especialista.


“O Brasil é uma superpotência nesse sentido e pode ter uma influência muito importante na presidência do G20, pensando nos nossos combustíveis e no seu papel na descarbonização das economias”, diz Brende.


O presidente do Fórum Econômico Mundial também destacou a importância de avançar na agenda de financiamento para respostas às mudanças climáticas iniciadas na COP 28. Ele ressaltou a necessidade de investir mais na transição verde mesmo em um contexto de recorde das dívidas globais. “O setor privado precisa contribuir e o B20 será incrivelmente importante nesse sentido”, afirmou.

Instabilidade geopolítica e colaboração global com regras comuns

O cenário político atual é o mais complexo em termos geopolíticos nas últimas décadas, na avaliação de Brende, causando muita imprevisibilidade. “Estamos entre lugares”, afirmou, em referência a uma transição entre o cenário da Guerra Fria e uma nova ordem mundial. “Espero que essa nova ordem não signifique retrocesso, mas uma ordem mundial mais justa e com regras”, afirmou.

Brende ressaltou a necessidade de regras internacionais – especialmente porque os maiores problemas atuais são globais, como a pandemia e as mudanças climáticas – e a importância de fóruns como o G20 nessas construções.


“O Brasil pode ter um papel chave para chegarmos num consenso em relação a essas regras do jogo sobre inteligência artificial, como facilitar investimentos na economia digital e de serviços digitais”, afirmou, citando como exemplo a necessidade de regras de tráfego.


De acordo com o presidente do Fórum Econômico Mundial, o impacto positivo da IA pode ser principalmente em ganhos de eficiência, chegando a um incremento de 30% da produtividade, segundo estimativas. “Produtividade significa prosperidade. Se produzirmos com menos recursos, podemos melhorar salários, sermos mais efetivos como sociedade”, afirmou.

Na Noruega, por exemplo, há 100 anos, 95% da população trabalhava na agricultura. Hoje são 3%, mas a produção é maior devido à melhora da produtividade, que também ajudou a aumentar os salários, contou Brende.

Homem branco, caucasiano, fala em frente a púlpito, usa terno e, ao fundo, há um painel azul, com a escrita "B20".
Brende diz que temos que evitar as novas tarifas e barreiras para o comércio, que é o motor para o crescimento da economia. Foto: Gabriel Pinheiro / CNI

A importância da digitalização na economia global

O comércio digital – que cresce em uma velocidade 2,5 vezes maior que o comércio de bens tradicionais – é uma área que deve puxar o crescimento global, na análise do especialista. Ele citou a expectativa da Índia, líder em comércio e serviços digitais, que deve crescer 8% em 2024.

Na visão do presidente do Fórum Econômico Mundial, a economia global tem se recuperado, embora ainda não esteja ótima. A expectativa é de crescimento econômico global de 2,8%, abaixo da tendência de 3,8% das últimas duas décadas e meia.

Nesse contexto, ele ressaltou a importância das discussões no âmbito do B20 especialmente nos temas de financiamento e comércio internacional. “Temos que evitar novas tarifas, novas barreiras para comércio, guerras comerciais. Isso pode ter um impacto muito negativo. Temos que colaborar com nossos vizinhos”, afirmou.

Brende é um político e diplomata norueguês e é presidente do Fórum Econômico Mundial desde 2017. Membro do Partido Conservador, anteriormente foi ministro das Relações Exteriores de 2013 a 2017, ministro do Meio Ambiente de 2001 a 2004 e ministro do Comércio e Indústria de 2004 a 2005.