“Corri com as pernas, aguentei com o coração e venci com a cabeça.”, destaca Vanderlei Cordeiro no último painel da Semana Caldeira
O último painel da Semana Caldeira 2024, evento que contou com a participação de mais de 9 mil pessoas ao longo dos cinco dias de programação, abordou o tema ‘Vencer com a cabeça’, com o ex-atleta olímpico e maratonista Vanderlei Cordeiro. A conversa, realizada no Espaço Caldeira, começou com o atleta compartilhando sua trajetória de superação, diante de uma plateia de mais de 300 pessoas.
O CEO do Instituto Caldeira, Pedro Valério, abriu o último painel destacando a importância do evento após tempos adversos. “Temos todas as condições de promover uma visão realmente positiva e propositiva, que possibilite aos jovens mais acesso a oportunidades. A partir disso, podemos construir um estado pautado pela tecnologia, inovação e empreendedorismo”, afirmou Valério, que também citou a Maratona Internacional de Porto Alegre, um marco na capital, que ocorreu no último fim de semana.
Vanderlei Cordeiro iniciou o painel falando sobre sua infância no interior do Paraná. Caçula entre sete irmãos, o atleta é filho de nordestinos que migraram para o Sul em busca de melhores oportunidades. “Tive uma infância muito pobre, mas sempre fui apegado à fé e à perseverança”, relembrou. Assim como seus pais, Vanderlei trabalhou como boia-fria na zona rural. “Minha primeira oportunidade na vida veio através do esporte“, comentou o maratonista, que foi incentivado por seu professor de educação física. Na época, Cordeiro nunca havia saído de sua cidade, mas, ao viajar para participar dos jogos escolares, conheceu um novo mundo.
Ao me envolver com o esporte, tive a sensação de que abri a porta de casa e descobri que o mundo era muito maior do que eu imaginava.
A partir desse momento, ele passou a usar o esporte como instrumento para buscar melhores condições de vida. No entanto, sua trajetória foi cheia de desafios. O maratonista lembrou que, em sua primeira corrida, não tinha um par de tênis adequado e só conseguiu competir porque um amigo emprestou-lhe um par. Além disso, suas primeiras maratonas foram financiadas por doações de amigos e comerciantes da comunidade onde vivia com sua família.
“Não importa de onde você vem, mas sim onde você quer chegar“, pontuou o atleta, enfatizando que, no início de sua carreira, sua única opção era arriscar e ser ousado. Aos 17 anos, Cordeiro foi para São Paulo treinar, contrariando até mesmo sua família.
Fui em busca da minha oportunidade, do meu sonho. Era muito difícil, e eu dizia para mim mesmo que não podia voltar, porque o passado era muito pior.
Além de sua persistência, Cordeiro mencionou a importância de uma grande inspiração. Na casa de uma vizinha, assistindo à TV, ele viu Joaquim Cruz ganhar a medalha de ouro nos 800 metros rasos nos Jogos Olímpicos de Los Angeles, em 1984. “Naquele dia, disse a mim mesmo: ‘Eu quero ser atleta olímpico’”, e, anos depois, em 1996, seu sonho se concretizou, quando participou de sua primeira Olimpíada ao lado de Joaquim Cruz. “A nossa mente é muito mais forte do que imaginamos”, afirmou.
Em 2000, Cordeiro continuou em busca da medalha olímpica, um objetivo que parecia impossível para muitos, exceto para ele. “Ninguém precisava acreditar mais do que eu”, comentou, destacando a importância de mentalizar seus objetivos e confiar em sua equipe. Segundo o atleta, “no esporte, assim como no mundo corporativo, ninguém chega lá sozinho. Uma equipe dedicada e diversos fatores são essenciais para o sucesso”. Mesmo não conquistando a medalha naquele ano, ele não desistiu de sonhar.
Atenas
Sabendo que 2004 poderia ser sua última Olimpíada, Cordeiro intensificou seus treinamentos, mantendo uma rotina rigorosa de domingo a domingo. Para ele, além de foco e esforço, a disciplina era crucial para alcançar seu objetivo. Pouco antes dos Jogos de Atenas, o atleta sofreu um acidente que quase o tirou da competição. Com o apoio de seu treinador e um intenso regime de fisioterapia, ele continuou perseguindo seu sonho. “Minha cabeça já estava em Atenas, porque eu treinava como se estivesse competindo nos Jogos.”
De acordo com o maratonista, ele estava preparado para conquistar a medalha de ouro e disposto a arriscar, se necessário, para alcançar seu objetivo. No entanto, ele e sua equipe não estavam preparados para o incidente no quilômetro 30, quando, liderando a prova com folga, foi agarrado por um padre irlandês que invadiu a pista. “Naquele momento, meu corpo queria desistir, mas minha mente não deixou”, afirmou Cordeiro, que seguiu até o fim e conquistou a medalha de bronze. Além disso, foi agraciado com a medalha Pierre de Coubertin, em reconhecimento ao seu comportamento na disputa.
A medalha de bronze teve um sabor de ouro e consolidou a história de superação e persistência de Vanderlei Cordeiro. Nos Jogos Olímpicos do Rio, em 2016, o maratonista foi homenageado ao ser escolhido para acender a pira olímpica. “Ao subir aqueles degraus, pensei em toda a minha trajetória. Ali, tive a certeza de que minha história foi digna daquele momento. Me senti no pódio”, concluiu.
Vanderlei encerrou sua fala destacando que foco e dedicação foram essenciais para seu sucesso, mas acreditar que poderia realizar o que um dia foi apenas um sonho foi o fator decisivo.
Corri com as pernas, aguentei com o coração e venci com a cabeça. Foi assim que venci em Atenas.
Atualmente, Vanderlei Cordeiro lidera o Instituto Vanderlei Cordeiro de Lima (IVCL), fundado em 2008 na cidade de Campinas. O instituto tem como objetivo promover a prática lúdica do atletismo, aliada a atividades educativas e culturais, para crianças e adolescentes de 6 a 17 anos em situação de vulnerabilidade social.
Parabéns!