Roberta Coelho, a brasileira que está ajudando a revolucionar o mundo dos e-sports
Uma brasileira está ajudando a revolucionar o mundo dos esportes eletrônicos (e-sports) com foco no propósito e na experiência. E tudo isso, sem jogar.
A trajetória de Roberta Coelho até se tornar CEO da Made in Brazil (MIBR), equipe nacional de e-sports, não foi linear. Economista de formação, começou sua vida profissional no mercado financeiro, bem distante do entretenimento. “Quando eu era criança, queria trabalhar com café”, relembra. E, de fato, depois de algum tempo no mercado financeiro, iniciou sua atuação na área financeira de uma grande multinacional de cafés e metais, a Pacorin.
E o que café tem a ver com esportes eletrônicos? Aparentemente nada. Mas a palestra de Roberta no Espaço Caldeira, durante a Semana Caldeira, inspirou a plateia a entender que o mais importante para ter sucesso na área é se desafiar e buscar novos horizontes para inovar quando for necessário.
“O que eu quero dizer é que você não precisa jogar para trabalhar nesse mundo dos games, que é incrível e oferece muitas oportunidades”.
Entre o café e os games, portanto, foram muitas encruzilhadas, uma que levou a outra, que levou a outra e assim por diante. Roberta contou que depois de dez anos na multinacional, sentiu que era hora de inovar novamente. Aos 28 anos, ela virou mãe e resolveu empreender, mas o negócio não deu tão certo quanto ela esperava. Por isso, voltou ao mundo corporativo como diretora financeira (CFO) do Rock in Rio, com o objetivo de abrir o capital da empresa, o que foi feito.
Inquieta por natureza, ao final de cinco anos, ela aceitou um novo desafio de profissionalizar a empresa familiar de sucos Greenpeople – que não deu certo. “Eu levei três meses para decidir sair do Rock In Rio e em quatro meses minha passagem na Greenpeople estava encerrada. Não era para mim”. Depois de um período sabático, retornou ao Rock in Rio para comandar os novos negócios da marca e só depois entrou no mundo dos esportes eletrônicos. “Digo isso para mostrar que, às vezes, as coisas não dão certo, e está tudo bem”, afirmou.
No entanto, há muitos outros momentos em que tudo se encaixa. “Quando recebi a proposta de voltar ao Rock in Rio, eu disse que voltaria se não fosse para a área financeira. Eles me ofereceram outra função, mas com um salário quatro vezes menor. Eu escolhi ser feliz em vez de optar pela remuneração e topei o desafio”, contou. Assim, todos os produtos do Rock In Rio, excetuando a música, ficaram sob o seu guarda-chuva.
Foi nesse momento que ela se apaixonou pelo universo dos jogos. “Desenvolvemos um bairro de jogos dentro do Rock in Rio chamado Game XP em 2017. O sucesso foi tão grande que se tornou um evento independente. Virei CEO desse braço de jogos”, relatou, lembrando que a edição de 2020 estava organizada quando a pandemia de coronavírus estourou. “Mais uma vez nos deparamos com algo que ninguém poderia prever. Em 2021, realizamos uma edição online do evento”, disse.
Propósito e experiência
Quando recebeu o convite da Made in Brazil, empresa fundada em 2003 e que teve o primeiro time brasileiro campeão mundial de Counter-Strike (CS), Roberta conta que seu principal desafio foi logo no seu ingresso em 2021. “Tínhamos um comunicado e uma nota reativa prontos, por causa da repercussão. As pessoas questionavam como uma mulher, que sequer jogava, poderia ser CEO”, explicou.
Em uma das primeiras reuniões com os líderes internacionais da empresa, ela novamente se viu em uma encruzilhada: adaptar-se ao estilo de gestão proposto ou inovar. “Eu tive que dizer, naquela reunião, que ou mudávamos nossa forma de pensar o negócio, ou morreríamos em seis meses.”
Na época, a Made in Brazil dependia exclusivamente de patrocínios vinculados às competições. Mas, segundo ela, isso era arriscado. “A partir daí, começamos a estudar os dados da nossa comunidade com mais profundidade e a buscar formas de tornar as parcerias mais vantajosas para os jogadores e para as marcas”, contou.
Essa foi uma mudança de chave, pois, se antes o foco da empresa eram os jogadores, passou a ser a comunidade de fãs. “Percebemos que nossa comunidade, além dos jogos, consumia música, moda e carros. Então começamos a expandir nossos produtos e criar experiências.” Atualmente, a Made in Brazil faz colaborações com marcas de roupas, produz música com grandes artistas nacionais e patrocina rappers em competições de batalhas de rima.
Outra mudança da qual ela faz parte foi o investimento no propósito. “Na MIBR eu posso trabalhar com propósito. A comunidade gamer é diversa. Muitas mulheres jogam, por exemplo, mas se escondem atrás de nicknames masculinos por causa do preconceito.” Para combater esse tipo de discriminação e fomentar o esporte feminino, Roberta explica que a Woman in Brazil (WIBR), divisão dentro da MIBR, é focada em ações para incentivar a carreira de mulheres nos e-sports. “Monetizamos a causa porque fizemos nosso dever de casa. Além de ter uma CEO mulher, 50% das nossas líderes são mulheres. E esse patrocínio está mudando a vida dessas meninas”, ponderou, citando grandes marcas que patrocinam o WIBR, como Itaú e Natura.
Para terminar, ela convocou o público apaixonado por tecnologia, jogos e experiência a mergulhar nesse universo. “Sei que nesta plateia há muitas pessoas que se identificam com o universo dos games. Se você se interessa pela área, não tenha medo de arriscar. Às vezes temos que seguir em frente com medo mesmo, porque ele não pode nos paralisar”, incentivou.
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